Mas, Márcia… o que eu posso fazer?

Mariana Monteiro
2 min readDec 26, 2020

Eu não vejo motivo pra comemorar Natal mesmo.

Você vai me desculpar. Eu sei que é preciso manter a magia, pelas crianças. Que tem a questão de Jesus, que é super importante. Mas aí é aquilo: falou Jesus, falou Maria, já senti uma pontada aqui no meu útero. Eu gosto muito do feriado de 12 de outubro, inclusive. Fica entre o Dia de Cosme e Damião e o meu aniversário, eu adoro.

Mas quando chega em dezembro eu já to sem forças, Márcia. Mesmo em um ano como esse, que eu bati record em ficar nesse estado sentadeitado, poupando minhas fibras. Esses dias tentei entrar nas Casas Pedro, não consegui. Era muita gente atrás de nozes, essas coisas. Eu tentei, fiquei ali uns 5 minutos, mas acho que ninguém me viu. Não tinha uma fila, tava todo mundo agitado, como se fosse acabar o mundo, as nozes, tudo. Fiquei com vergonha de pedir cúrcuma, que não tem nada a ver com a festa, fui embora.

imagem ilustrativa de mim

É esse tipo de correria. Eu não to mais disposta. E a questão dos presentes, então, nem se fala. Teve uma época boa, que a gente saía com uma lista, pra não esquecer de ninguém. Imagina que vexame, deixar alguém sem presente. Aquele calor, muito camelô na rua, muita gente de sorvetinho do Mc Donalds na mão. Já era uma festa.

Mas já faz muitos anos que isso acabou. A gente não consegue mais investir dinheiro no agrado dos outros. Também foi ficando cada vez mais desconfortável não receber nada em troca e ter que fazer uma expressão específica. Uma que não deixasse a gente parecer soberbo, nem decepcionado, mas que ainda conservasse alguma surpresa, pra não evocar os anos anteriores. Isso não tem nada a ver com Jesus.

Agora, tem é muita gente que fica com a mente só na comida, o que eu acho até justo. É uma exaltação à fartura, é uma coisa que eleva qualquer um à um estado muito natural de realeza. Gosto também do fato de cada casa ter seu próprio cardápio, das pessoas mostrarem suas comidas em rede social e, claro, do respeito que existe em não assar um peru, por exemplo, no mês de agosto.

Rabanada eu dispenso. Não só ela, como toda discussão que há em torno dela. Pra mim é pão frito com canela, não me venha romantizar. Mas não julgo quem come e gosta.

É isso, Márcia. Hoje já é dia 26 e eu ainda não consegui me recuperar desse avalanche energético, midiático, catedrático ou o que for. Meu sistema digestivo tá alterado, uma preguiça indecente tomou conta do meu corpo, enquanto na minha cabeça eu penso em dar uma caminhada e preparar uns currículos pro ano que vem.

Márcia, eu já aceitei. Só não me peça para gostar.

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Mariana Monteiro

Jornalista, 32 anos. Renascendo pós golpe. Escrevo para marcar meu tempo no espaço. Contenho esperança. Crio um cão, sonhos e palavras. Sou feliz porque decidi!